Pesquisar
Close this search box.
Meu encontro com o Livro Vermelho de Carl Gustav Jung
Meu encontro com o Livro Vermelho de Carl Gustav Jung

Você já deve ter ouvido dizer que não somos nós quem escolhemos Jung, mas é ele quem nos escolhe, certo? Penso que para cada pessoa isso tenha um sentido muito único. Vou contar a minha história…

Tudo começou na madrugada do meu aniversário de 35 anos. Foi uma noite longa e triste. Enquanto lágrimas escorriam na minha face eu cheguei à seguinte conclusão: “Estou na metade da minha vida. Se isso foi o máximo que consegui e daqui pra frente é só ladeira abaixo, eu estou definitivamente no caminho errado”.

Imediatamente julguei meu pensamento um tanto egoísta, pois eu tinha conquistado maravilhas ao longo dos anos e era um privilégio estar onde eu estava. Mas o vazio que eu sentia não pode ser explicado. Ou você também já sentiu e agora está concordando comigo e pensando “Eu sei o que é isso!”, ou talvez você tenha vivido uma vida com mais sentido e portanto tenha sido poupado desta angústia. Fato é que eu soube que precisaria mudar muita coisa na minha vida, caso contrário, morreria de tristeza.

Eu não tinha a menor ideia de quem era Jung.

A metanoia não foi um conceito que aprendi em alguma aula ou lendo algum livro. Eu a vivi, intensamente. Sem sequer saber que existiu um tal de Jung que dedicou sua vida para estudar e escrever sobre ela.

Foram alguns anos de descida ao inferno. Eu sabia o que não queria mais na minha vida, mas ainda não sabia o que eu queria. Nesta busca, participei de diversos cursos e vivências. Imagino que em algum deles alguém tenha mencionado Jung e isso tenha ficado no meu inconsciente, pois, certo dia, ao sair do trabalho para almoçar, minha voz interior me disse: “Você precisa comprar um livro de Jung”. Fiquei um tanto surpresa com esse comando, mas já sabia que essa era uma voz que não poderia ser ignorada. Em menos de dez minutos eu já estava no shopping.

Na livraria, fui direto pedir ajuda à vendedora, pois eu não tinha ideia de onde procurar por Jung. O diálogo seguiu mais ou menos assim:

P: Olá, eu gostaria de comprar um livro de Jung.

V: Qual deles?

P: Eu não faço a menor ideia, você poderia me mostrar o que você tem?

V: Claro, vamos ao terminal pois assim eu te falo o que temos na loja.

A vendedora fez uma busca por Jung e começou a dizer que tinha tal livro, e tal livro, e tal livro… e nada do que eu ouvia me fazia sentido… até que ela disse: “E tem o Livro Vermelho!”, com tanta empolgação que eu fiquei curiosa.

P: O que é o livro vermelho?

V: Você não sabe? Você está procurando por Jung, mas não sabe o que é o Livro Vermelho?

P: Moça, eu não sei sequer quem é Jung. Eu só sei que tenho que comprar um livro dele. Onde estão os livros, eu posso vê-los?

V: Claro, estão todos expostos, menos o Livro Vermelho.

P: Como assim?

V: Ah, ele é muito caro e nós só temos um, então ele fica guardado na sala do gerente para não estragar.

P: Sério? – e ambas rimos – Nossa, agora mesmo que eu gostaria de vê-lo.

V: Mas você vai comprar?

P: Ué, não sei, eu ainda nem o vi.

V: Ah, mas eu não posso te mostrar. Nós só pegamos esse livro quando alguém vai comprar. É que quem compra o Livro Vermelho é porque já o conhece e sabe que quer comprá-lo.

P: Mas eu gostaria de vê-lo.

V: Só um minuto, vou ter que conversar com o gerente.

Alguns minutos depois, o gerente aparece. Penso que ele estava ali para avaliar se eu seria realmente uma potencial compradora. Conversou brevemente comigo e autorizou a vendedora a me mostrar o livro.

O primeiro impacto foi com o tamanho do livro, obviamente. Então, comecei a folheá-lo. Abrir o livro e virar as páginas me pareceu um verdadeiro ritual iniciático. Tocar o texto, olhar as imagens, ser inundada pelos símbolos, foi uma experiência indescritível! Não havia dúvidas de que esse era O livro que eu precisava comprar.

Livro Vermelho comprado e acomodado no banco de passageiro, dirigi até a casa de minha mãe para almoçar. Ao chegar, o controle remoto do portão eletrônico não funcionou. “Deve ter acabado a bateria”, pensei. Abriram por mim e entrei. Ao descer do carro e tentar trancar a porta, a chave eletrônica também não funcionou. “Que coincidência!”, estranhei.

Após o almoço, voltei para o trabalho e, ao final do dia, corri para casa para poder explorar minha mais nova aquisição. Mas, adivinhem… o controle remoto do portão do meu condomínio também não funcionou. Tentei o controle reserva e também nada! Olhei para o Livro Vermelho como quem olha para uma criança sapeca que adora pregar peças na gente. A energia do meu carro foi afetada por sua presença.

Anotei na minha checklist que precisava comprar baterias novas para os controles, mas os dias passaram e, para minha grande surpresa, uma semana depois os quatro controles voltaram a funcionar normalmente.

Quando conto essa história algumas pessoas me perguntam qual a explicação para este fenômeno. Não posso explicá-lo de outra forma que não seja uma sincronicidade que se manifestou para que eu pudesse sentir que este realmente era “O” livro, e que, a partir de então, eu iniciaria um novo caminho em minha vida.

Para finalizar, deixo aqui um trecho no qual Jung fala sobre os mistérios da vida:

“A ciência até hoje não foi capaz de apreender o enigma da vida, nem através da matéria orgânica, nem através das misteriosas séries de imagens que brotam da psique. Consequentemente ainda estamos à procura daquele princípio vital cuja existência devemos postular para além dos limites da experiência. Quem conhece os abismos da fisiologia fica aturdido, diante das suas manifestações, da mesma maneira como aquele que tem noções sobre a psique humana, terá uma sensação de desespero, só de pensar que este estranho ser especular jamais atingirá qualquer “conhecimento” por mais aproximado que seja.”

C.G Jung, O.C. 8/2 A natureza da psique § 620

plugins premium WordPress